segunda-feira, 6 de abril de 2015

Gosto é gosto?

  Justifique seus gostos ao final desse texto.

  Já não é de hoje que ouvimos falar que gosto é gosto e que não se discute, que gosto é pessoal e que cada um tem o seu. Mas já parou para pensar de onde surgem os gostos já que nascemos sem gosto algum?

  Será mesmo que os seus gostos são inerentes ao seu ser ou a sua cultura e sociedade, e que nada te influenciou a gostar do que gosta?

  Muitas pessoas podem achar que gosto é nato e que você o obteve por simplesmente obter, mas não é bem assim, o ‘gosto sendo ele: à disposição de um indivíduo em realizar determinadas escolhas a partir das condições com que se depara’ é algo socialmente construído e determinado pela cultura que se está inserido, e também pelas influencias sociais com que o individuo se relaciona e se expõem.

  O seus gostos foram construídos e formatados a partir das suas relações com o mundo e não do acaso, e por esse motivo é sempre bom questionar e refletir: por que eu gosto assim e não assado? Existe pré-conceitos e julgamentos nas minhas escolhas e gostos?

  E o preconceito é algo comumente disfarçado de gosto, porque as pessoas compreendem que se “eu gosto apenas de pessoas com características X, não é preconceito é apenas meu gosto”, mas devemos avaliar até que ponto esse gosto está alinhado com os padrões definido pela sociedade e a cultura do nosso meio, e até que ponto esse gosto não pode ser um preconceito embutido em questões puramente pessoais.

  Nota-se que os gostos sofrem uma segregação cultural, que em determinado lugares os gostos se repetem e são os padrões sociais que diferem de outras localidades. Isso denota com clareza como a sociedade formata os gostos, pois do contrário não teríamos gostos unanimes numa mesma esfera já que todas as pessoas construiriam seus gostos sem pré-disposição e á partir da aleatoriedade e sendo assim haveria uma pluralidade de gostos sem que um se destacasse com tanta ênfase em relação aos outros. Mas não vemos isso ocorrer.

  Uma pessoa que nasce numa família onde não gostam de comer jiló, tem uma chance de muitos por cento de nunca gostar de jiló, dizer que não gosta de jiló e que é apenas questão de goto (esse é um exemplo para facilitar o entendimento, como não há uma pesquisa a respeito prefiro não por isso em dados quantitativos e percentuais). Essa pessoa pode nunca ter comido jiló antes na vida, mas ela prefere usar como argumento o ‘é apenas meu gosto’.

  Apenas meu gosto não é um argumento, é apenas uma defesa justamente quando (na maioria das vezes) não se tem um argumento, e como você não sabe explicar o motivo pelo qual te leva a escolher algo em relação à outro, você ‘argumenta’ com a questão de ‘gosto’ mesmo que nunca tenha experimenta ambas as opções ou ao menos tentado dar uma chance a opção não escolhida.

  Porém isso não significa que você deve sair pelo mundo experimentando tudo que tiver disponível e ao seu alcance, para que possa definir seus reais gostos (embora caso seja possível e não fizer mal, não vejo porque não por essa ideia em pratica), os gostos devem ser questionados e refletidos a respeito quando os mesmos implicam em discriminação e representem algum tipo de segregação cultural e de pré-conceito ou preconceito.

  Quando o seu gosto passa a diminuir um determinado grupo e desfavorece-los ou quando esses gostos prejudicam uma tribo social eles devem ser questionados e avaliados de ondem surgiram. Quando os gostos são carregados de julgamentos devemos ficar atentos, já que muitas vezes ficamos incrédulos aos gostos alheios e colocamos uma visão aversiva a respeito das pessoas em relação aos gostos que elas têm, sendo que nem mesmo você sabe explicar seus gostos.

  Já que sabemos que gostos são socialmente construídos, uma boa prática é começar a questionar os seus gostos e abrir a mente para novas possibilidades, novo gostos e novas formas, desprender-se dos padrões culturais e enxergar novas janelas e deixar de tentar argumentar preconceito com o chavão do “gosto não se discute”.

Saia da forma do gosto, experimente o novo.

PS: condição sexual não pode ser tratada como gosto, já que a atração por gênero é inerente ao ser, não se propõem para uma pessoa experimentar relações com determinado gênero sexual se a mesma não sente atração por aquele gênero, enquanto que padrões de culinária, beleza, vestuário e afins são determinações culturais, logo que não sentimos atração por essas.

PS 2: post inspirado no texto “A construção social do gosto, no cinema e na vida” e no vídeo “É gosto, não é preconceito”.

Nenhum comentário: